sábado, 19 de junho de 2010

A vida é sonho?


Com essa peça, Pedro Calderón de La Barca entronizou definitivamente o Barroco no teatro espanhol, o teatro, aliás, foi à maior expressão do Barroco, pois nele se potencializa a idéia de que se vive um sonho que vai desfazer-se no final. A peça está fortemente carregada pelo sentido dramático do homem seiscentista, que descobre não ser o centro do universo, e que toma consciência de que tudo é efêmero e vão, o tempo é fugaz, as coisas mutáveis, nada perdura – e, ao mesmo tempo, ele se sente profundamente apegado às riquezas do mundo e aos prazeres da vida.

O protagonista da história é o príncipe Segismundo, que, desde o nascimento foi condenado a um terrível destino: encerrado pelo rei seu pai numa torre, ali viveu até a juventude, conhecendo apenas um ser humano, o seu carcereiro.
A essas alturas da história, o rei (Basílio) percebe que talvez tenha cometido um erro com tal atitude e resolve tirar o filho da prisão e testá-lo, para ver se ele merece ser seu herdeiro. Tem medo, porém, de que o desventurado príncipe demonstre má índole e incapacidade de governar – caso em que terá que retornar à prisão, e esta lhe seria mais dolorosa do que jamais fora, depois de ter vivido na suntuosidade e conforto do palácio real. Para que seu filho não sofra essa desilusão, Basílio resolve usar um estratagema: o carcereiro deverá ministrar a Segismundo uma droga muito forte que o fará dormir profundamente e, depois, acordar como um príncipe em um luxuoso quarto no palácio de seu pai. Seria um sonho? É espantoso o que admiro... / é tanto que já não creio... / Eu, em telas e brocados, / eu, cercado de criados, / um leito de sedas, / gente pronta a me vestir... / Não sonho? Ou sim? / Que houve enquanto eu dormia? E aqui vem a idéia de poder e dissimulação do teatro (e da vida?): Não quero o poder fingido, não quero pompas fantásticas, ilusões inúteis. Já vos conheço, e sei que é o que acontece quando sonham. Mas para mim acabaram as ilusões; estou acordado, sei muito bem que a vida é sonho. Segismundo, depois de ter experimentado as honrarias e pompas no palácio de seu pai, é levado novamente a dormir sob o efeito de uma poção, e acorda outra vez na masmorra em que passara toda a sua vida. Esse retorno à desgraçada condição de encarcerado se deve ao fato de ter cometido ações altamente condenáveis ao experimentar o poder, na posição de príncipe herdeiro do trono. Diante da infelicidade do príncipe, o carcereiro, Clotaldo, o convence de que o palácio, as belas roupas, os cortesãos, as honrarias, enfim, tudo não passou de um sonho. Acrescenta ainda que, mesmo em sonhos, ele deveria ter honrado seu pai e praticado boas ações.

De acordo com a moral barroca, Calderón de La Barca mostra que, sonho ou realidade, a vida é efêmera (passa muito rapidamente), por isso o ser humano deve se voltar para o eterno, e que nada se perde em praticar o bem.